Introdução: A febre reumática (FR) é uma complicação tardia da infecção das vias aéreas superiores pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A. Ao acometer pessoas jovens, provoca enorme impacto emocional e socioeconômico. Além disso, grandes gastos dos serviços de saúde são despendidos no tratamento com assistência médica de longo prazo e abordagem cirúrgica das valvopatias graves. No Brasil, 35% do total das cirurgias por doenças cardiovasculares é devido à cardiopatia reumática, que consome cerca de 2/3 dos recursos gastos anualmente com cirurgia cardíaca. Embora a lesão da valva aórtica seja menos comum que a da valva mitral, a disfunção da primeira leva a consequências mais sérias quanto à função ventricular esquerda, qualidade de vida e prognóstico do paciente. Este estudo objetivou avaliar a prevalência da cirurgia de troca valvar aórtica por acometimento reumático, o processo de acometimento da valva e traçar o perfil epidemiológico dos pacientes.
Metodologia: Realizado de forma retrospectiva através da avaliação e coleta de dados de descrições cirúrgicas dos pacientes que foram submetidos à troca de valva aórtica por acometimento reumático em serviço terciário de Pernambuco (PE), entre 2015 e 2020.
Análise Estatística: Os dados obtidos foram digitados na planilha Microsoft Excel com intenção de agrupar os doentes em grupos definidos, comparando-os com o número total.
Resultados: O total de cirurgias de troca valvar foi igual a 362, dentre elas 118 (32,6%) foram por acometimento reumático, e destes, a valva aórtica foi acometida em 59 (16,3%) pacientes. O presente estudo contou com o recrutamento destes 59 pacientes. Dentre eles, 34 (57,6%) são mulheres e 25 (42,4%) são homens. Já em relação à faixa etária foi perceptível a prevalência de adultos e idosos, sem nenhum paciente entre 10 e 19 anos. A respeito do tipo de acometimento e de lesão valvar, foi predominante o duplo acometimento (aórtico e mitral) e a dupla lesão (estenose e insuficiência) valvar. Sobre a classe funcional dos pacientes, 49,1% chega ao serviço com NYHA IV e 30,5% com NYHA III. Apenas 15,2% e 5,2% chegam ao hospital com NYHA II e I, respectivamente. Sobre as cirurgias de troca valvar, o número de próteses biológicas (78%) utilizadas foi muito superior ao de próteses mecânicas (22%). Quanto a escolaridade, 46 (78%) não possuíam o grau de escolaridade no prontuário médico.
Conclusão: Conclui-se que a FR continua um problema sério de saúde pública em PE, com gastos em inúmeras cirurgias de troca valvar ao longo dos anos e afetando a qualidade de vida de vários pacientes.