Introdução: O achado incidental de nódulos de Aschoff (NA) durante cirurgia cardíaca valvar, embora praticamente patognomônico de atividade reumática tem sido pouco estudado. O objetivo desse estudo é identificar achados clínicos, epidemiológicos e ecocardiográficos que auxiliem a traçar um perfil de pacientes com achado incidental de NA durante cirurgia cardiaca.
Métodos: Trata-se de estudo de coorte, com coleta de dados em prontuário e contato telefônico dos participantes do estudo. Foram analisados dados epidemiológicos, anatomopatológicos e de evolução tardia em dois grupos pareados obtidos de forma aleatória, por ocasião da cirurgia reparo ou troca valvar: Grupo FRA (GFRA): no qual foram encontrados NA ou atividade inflamatória sugestiva de febre reumática (FR) e Grupo controle (GC): sem achados patológicos de FR em atividade. Análise estatística apropriada foi realizada, com teste qui-quadrado de Pearson e exato de Fischer para comparação entre os grupos.
Resultados: Foram incluídos 188 pacientes, dos quais dados completos foram obtidos em 136. Desses, 68% eram do sexo feminino, com mediana de idade de 31 anos (15-45). A maioria dos pacientes apresentava valvopatia reumática (VR) mitral isolada ou associada com doença aórtica(64,1%). Atividade reumática expressou-se por: presença de nódulo de Aschoff em 61% dos pacientes, dos quais 64% encontravam-se em fase proliferativa ou mista (exsudativa/granulomatosa) e 14% cicatricial. Não houve diferença entre os grupos em relação a atividade inflamatória laboratorial (proteina C reativa e VHS) pré ou pós-operatória, uso de Dobutamina ou corticoide, sinais clínicos de insuficiência cardíaca ou dias de hospitalização. Entretanto, idade mais jovem e número de óbitos foi maior no GFRA (Tabela 1).
Conclusão:
1) Sinais clínicos e laboratoriais clássicos de FR em atividade não conseguiram identificar a sua presença no período pré-operatório de reparo ou troca valvar.
2) Nódulos de Aschoff em fase proliferativa foram o diagnóstico patológico mais frequente na identificação de atividade reumática incidental.
3) A atividade reumática incidental foi mais frequente em jovens e correlacionou-se com maior mortalidade.
Tabela 1
|
GFRA(n=98) |
GC(n=38) |
p |
Idade |
20(13-34) |
43 (32-54) |
<0,0001 |
VRmitralisoladaouassociada |
69% |
55% |
ns |
Atividadeinflamatória pré-operatória |
18% |
7% |
ns |
Taquicardia |
32% |
28% |
ns |
IntervaloPR aumentado |
11% |
15% |
ns |
Óbitotardio |
5,3% |
2% |
0,001 |
Tabela 1: Comparação estatística entre o GFRA com GC para os diversos achados estudados.