A concentração de partículas de HDL de pequeno diâmetro (HDLp1) prediz incidência do escore de cálcio coronário em indivíduos diabéticos sem doença cardiovascular estabelecida
Introdução: O diabetes tipo 2 (DM2) influencia decisivamente a evolução da aterosclerose coronária. Porém, este é um processo heterogêneo e mal compreendido. Enquanto em 50% dos diabéticos a chance de incidência do Escore de Cálcio Coronariano (CAC) em 5 anos supera os 40%, em 10% dos diabéticos a chance de CAC incidente é inferior a 10%*. Para compreender melhor a progressão da aterosclerose coronária medida pelo CAC em diabéticos não usuários de estatina e sem doença cardiovascular, estudamos o impacto da concentração da subfração de pequeno diâmetro da HDL (HDLp1, 7 a 8nm). HDLp1 tem sido implicada como mediador central do efeito anti-inflamatório do pool de HDL e poderia desempenhar papel específico na incidência de CAC em diabéticos.
Métodos: Foram incluídos 461 indivíduos diabéticos do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), não usuários de estatina, sem doença cardiovascular prévia com CAC=0 na primeira medida e uma segunda medidas de CAC após um período médio de 5 anos. A concentração de [HDLp1] foi medida por espectroscopia/ ressonância magnética do hidrogênio (H1-NMR), sendo dividida em tercis. A incidência de CAC foi definida como um CAC inicial de 0 seguido de CAC>0 em segunda aferição. Regressões logísticas stepwise forward foram utilizadas na identificação de fatores de risco para incidência de CAC. A análise de discriminação foi realizada mediante cálculo de área sob a curva ROC (AUROC).
Resultados: Um total de 143 (31.0%) pacientes apresentaram CAC incidente. Na regressão logística stepwise, ao lado de fatores como idade, sexo, pressão arterial sistólica, tabagismo, apoB, proteína C reativa e HbA1c, o 3º tercil de [HDLp1] se associou a 55.2% (IC 95% 15-110%, p=0.0039) e 140% (IC 95% 32-341%, p<0.001) maior risco de incidência do CAC comparado com o 2º tercil e o 1º tercil, respectivamente. Quando comparado a um modelo composto por 12 variáveis para predição de incidência do CAC, o diâmetro de HDLp1 aumentou substancialmente a AUROC de 0.651 (95% CI 0.597-0.705) para 0.684 (95% CI 0.631–0.736), p=0.027 para o teste de DeLong comparando as AUROCs. A spline restrita cúbica demonstrou forte associação entre [HDLp1] e incidência de CAC.
Conclusão: A concentração de HDLp1 melhora a capacidade preditiva para incidência de CAC em indivíduos diabéticos, não usuários de estatina, sem doença cardiovascular.