Introdução
O uso de estatina é recomendado para prevenções primária e secundária da doença cardiovascular aterosclerótica, sendo um dos fármacos mais prescritos. Sintomas musculares associados ao seu uso costumam ser auto-limitados. Entretanto, a doença rara, miopatia necrotizante imunomediada associada a estatina (MNIM) requer rápida identificação e tratamento específico.
Relato de caso
Paciente feminina, 68 anos, hipertensa, diabética, com doença coronariana triarterial, vem a consulta de rotina em cadeira de rodas. Na ocasião, referia, há 2 semanas, diminuição da força motora e dor intensa nos membros inferiores, diminuição da diurese e urina enegrecida. Em sua última consulta o LDL era 92 mg/dl, o que provocou um ajuste da atorvastatina de 40 mg/dia para 80 mg/dia. Ao exame físico, apresentava força grau IV em membros superiores (MMSS), força grau II em membros inferiores e reflexos profundos ausentes. Ela foi internada com a hipótese de miopatia, confirmada pela CPK de 38.360 IU/L e os achados da ressonância magnética. Evoluiu com disfonia, disfagia. Os exames (FAN, antiJO, antiSRP) para exclusão de doenças inflamatórias autoimunes, como polimiosite, foram negativos. O serviço de saúde não possuía o anticorpo anti-HMG-CoA redutase . No entanto, a história clínica e a linha temporal marcada pelo aumento da dose de estatina, permitiram o diagnóstico presuntivo de miopatia por estatina. Ela recebeu imunoglobulina (2 g/Kg) e pulsoterapia com metilprednisolona. Uma biopsia muscular foi realizada após um ciclo de imunoglobulina, identificando atrofia muscular. A paciente teve alta com metotrexato e azatioprina. Após 3 meses, retornou com força grau V em flexão e extensão de pernas e MMSS, grau IV para flexão do quadril.
Ressonância magnética de coxas mostrando edema difuso dos ventres musculares.
Discussão
A MNIM é rara, tendo prevalência de 2 a 3 casos para cada 100.000 pacientes tratados com estatina, acometendo, principalmente, mulheres entre 40-50 anos. Ela é causada pela presença do anticorpo contra HMG-CoA redutase, um exame pouco disponível no Brasil e no mundo pelo seu alto custo
A MNIM é marcada por fraqueza dos grupamentos musculares proximais dos membros, associada com elevação da CPK. O principal diagnóstico diferencial faz-se com polimiosite. A biopsia muscular é o padrão-ouro para diagnóstico. O tratamento envolve corticoide, imunoglobulina e imunossupressores.
Médicos devem estar cientes desse evento adverso grave da estatina para diagnóstico e tratamento precoces