Introdução: Recentemente, estudos observaram piores taxas de eventos cardiovasculares associados a maior variabilidade individual de diversos parâmetros biológicos, como a pressão arterial, a glicemia, o peso corporal e o colesterol. Entretanto, evidências sobre a associação da variabilidade da trigliceridemia ao longo do tempo com a ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes com doença arterial coronariana são escassas.
Métodos: Foram analisados dados de pacientes com doença arterial coronariana (DAC) crônica confirmada por cineangiocoronariografia, e função ventricular esquerda preservada, coletados prospectivamente e armazenados em bancos de dados específicos. Os níveis de triglicérides foram dosados anualmente no sangue e em jejum. Para a análise longitudinal da variabilidade, foi utilizado o cálculo da variabilidade real média (VRM), definida como a média aritmética da soma das diferenças modulares dos níveis registrados longitudinalmente dos triglicérides. Os pacientes foram distribuídos em dois grupos de acordo com a VRM: o grupo 1 incluiu pacientes que apresentaram variabilidade ≤ 50 mg/dl e o grupo 2 incluiu pacientes com variabilidade > 50 mg/dl. A VRM foi analisada como variável categórica e contínua e relacionada à ocorrência do primeiro evento dentre os eventos cardiovasculares combinados de morte, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular encefálico (AVE) e revascularização não planejada, por modelos de regressão de Cox não ajustados e após ajuste multivariado.
Resultados: Dentre 1026 pacientes com DAC crônica, seguidos por média de 14 anos, 644 (62,7%) apresentaram VRM≤ 50 mg/dL (grupo 1) e 384 (37,3%) apresentaram VRM > 50 mg/dL (grupo 2). As características iniciais das duas populações encontravam-se equilibradas em relação as principais variáveis prognósticas. Eventos cardiovasculares ocorreram em 267 pacientes do grupo 1 (41,6%) e em 187 pacientes do grupo 2 (49,1%, p=0,02). Após ajuste multivariado, pacientes do grupo 2 apresentaram 29% maior risco para a ocorrência de eventos cardiovasculares em comparação aos pacientes do grupo 1 (HR 1,29 (1,19-1,39, p=0,01). Quando analisada como variável continua, a VRM apresentou associação com a ocorrência do desfecho cardiovascular tanto na análise não ajustada (HR 1,0015 (1,0009 – 1,002), p = 0,01, quanto na análise multivariada (HR 1,002 (1,001-1,0025), p = 0,007.
Conclusão: A maior variabilidade dos níveis de triglicérides pode estar associada a maior risco de eventos cardiovasculares durante seguimento de longo prazo em pacientes com doença arterial coronariana crônica.