Introdução: Os escores de risco em cirurgia cardíaca são usados para avaliar a probabilidade de um paciente apresentar complicações e/ou mortalidade no perioperatório. Avaliamos a calibração e a discriminação do escore brasileiro InsCor em uma validação independente, analisando ainda tendências temporais referentes a mudanças na precisão e utilidade desse modelo preditivo de risco ao longo do tempo (de 2003-2012 a 2013-2022).
Métodos: Foram incluídos 4.285 pacientes adultos consecutivamente submetidos a cirurgias cardíacas. O InsCor é um modelo preditivo utilizado nos cenários de revascularização miocárdica e/ou troca valvar cirúrgicas. Utiliza 10 variáveis e a sua pontuação varia de 0 a 30 pontos, definindo três categorias de risco de óbito: baixo risco (BR) = 4,4% [0 a 3 pontos]; risco intermediário (RI) = 8,8% [4 a 7 pontos]; e alto risco (AR) = 26,0% [≥ 8 pontos]. A discriminação do InsCor foi testada pela estatística C [área sob a curva receiver operating characteristic (ROC)] e sua calibração foi avaliada pelo teste de Hosmer‒Lemeshow.
Resultados: De acordo com o InsCor, aproximadamente 57%, 31% e 12% dos pacientes foram classificados como BR, RI e AR, respectivamente. A taxa de mortalidade padronizada [mortalidade observada dividida pela mortalidade predita (SMR)] foi de 0,88 [intervalo de confiança (IC) 95%, 0,22 – 1,98] para pacientes BR; 1,18 [IC 95%, 0,57 – 2,01] para pacientes RI e de 0,89 [IC 95%, 0,57 – 1,30] para pacientes com AR. A calibração do escore InsCor [χ2 Hosmer‒Lemeshow test (5) = 7,335; P > 0,05] e a discriminação foram razoáveis, com uma área sob a curva ROC de 0,73 (IC 95%, 0,70 - 0,75, P < 0,001). Analisando a tendência temporal (2003-2012 vs. 2013-2022), observamos que houve redução na proporção de pacientes classificados como de BR (62,0% vs. 50,1%; P < 0,001) e aumento na proporção de indivíduos com RI (27,7% vs. 35,3%; P < 0,001) e AR (10,3% vs. 14,7%; P < 0,001), ao comparar ambos os períodos. Apesar do aumento na gravidade do paciente, houve uma redução estatisticamente significativa de 55%, 27% e 39% na mortalidade do paciente nos três grupos de risco (BR = 4,9% vs. 2,2%, P < 0,001; RI = 11,97% vs. 8,75%, P = 0,033 e AR = 29,13% vs. 17,67%, P < 0,001); respectivamente.
Conclusões: Em nossa casuística, o InsCor apresenta calibração e discriminação razoáveis para predizer óbito após cirurgias cardíacas. Ao longo do tempo, apesar do aumento do risco dos pacientes, observa-se uma redução estatisticamente significativa de 55%, 27% e 39% na mortalidade dos pacientes pertencentes aos três grupos de risco.