Introdução
A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um distúrbio caracterizado por períodos de apneia ou hipopneia devido à obstrução mecânica do fluxo de ar durante o sono. A condição estabelece ciclos repetidos de apneia, hipercapnia e ativação simpática. Por sua vez, a noradrenalina tem efeito cardiotóxico, induzindo alongamento com disfunção e apoptose dos cardiomiócitos e, assim, colabora para a disfunção miocárdica e o remodelamento cardíaco. Este estudo tem como objetivo evidenciar os achados ecocardiográficos associados à disfunção miocárdica e ao remodelamento cardíaco presentes em pacientes com SAOS.
Métodos
Trata-se de uma coorte retrospectiva, incluindo pacientes de uma clínica de cardiologia de Brasília que realizaram ecocardiograma transtorácico entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019. Esses foram divididos em dois grupos, portadores de SAOS e não-portadores. Foram escolhidas como variáveis dependentes: fração de ejeção (FE) reduzida (<50%); diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo (DDFVE) aumentado (>58,4mm p/ homens e >52,2mm p/ mulheres); alterações segmentares da contratilidade do VE; disfunção sistólica do ventrículo direito; e disfunção diastólica do VE grau IV. A análise estatística foi realizada no software IBM SPSS Statistics 26, onde foram executados: teste exato de Fisher para as frequências; teste t de Student e intervalo de confiança (IC) de 95% para as médias; e regressão logística binária para as probabilidades.
Resultados
Foram incluídos no estudo 723 participantes, dos quais 29 (4,01%) apresentaram SAOS e 694 (95,98%) não. Nos participantes com SAOS, observou-se maior frequência e maior odds ratio para seguintes variáveis: FE reduzida; DDFVE aumentado; alterações segmentares da contratilidade do VE; e disfunção diastólica do VE grau IV (Tabela 1). Também foi verificada: menor FE média no grupo com SAOS, de 62,47 (IC95% 58,84 - 66,09) contra 67,57 (IC95% 67,25 - 67,88) dos não-portadores (p < 0,001); e maior DDFVE médio nas mulheres com SAOS, de 47,92 (IC95% 45,26 - 50,58) contra 45,63 (IC95% 45,22 - 46,03) das não-portadoras (p=0,048).
Conclusão
Os resultados deste estudo apontam que pacientes com apneia do sono apresentam mais frequentemente FE reduzida, DDFVE aumentado, alterações segmentares da contratilidade do VE, e disfunção diastólica do VE. Embora não seja possível atribuir causalidade, sugerem forte associação entre apneia do sono e dilatação do VE, com disfunção miocárdica segmentar e prejuízo à função sistólica e/ou diastólica.