INTRODUÇÃO: Pacientes com estenose aórtica (EAo) e insuficiência aórtica (IAo) evoluem com hipertrofia e fibrose miocárdica (FM) ao longo de sua história natural. A ressonância magnética cardiovascular é importante na avaliação de FM, tanto focal, utilizando o realce tardio, quanto difusa, através da fração do volume extracelular (ECV) e do valor absoluto do volume extracelular (iECV). O objetivo deste estudo é avaliar o impacto prognóstico pós-operatório da FM difusa pré-operatória expressa pelo ECV e pelo iECV em pacientes com valvopatia aórtica importante submetidos à cirurgia valvar.
MÉTODOS: Foram incluídos pacientes com EAo importante ou IAo importante com indicação de cirurgia. Foram excluídos pacientes com coronariopatia obstrutiva (lesões > 50%) ou com diabetes em uso de insulina. Foram realizadas ressonâncias magnéticas cardiovasculares até 3 meses antes e entre 6 e 9 meses após a cirurgia valvar. O desfecho clínico composto primário consistiu em óbito, acidente vascular cerebral, reoperação ou dispneia classe funcional III ou IV no período de acompanhamento. O desfecho clínico composto secundário consistiu em dispneia classe funcional III ou IV ou eventos do escore STS (óbito; creatinina > 4mg/dL; diálise; acidente vascular cerebral; ventilação mecânica > 24 horas; internação > 14 dias; infecção profunda de ferida operatória; reoperação) em 30 dias.
RESULTADOS: Foram incluídos 99 pacientes nas análises (32 com IAo e 67 com EAo). Após um período de acompanhamento pós-operatório mediano de 24,5 (24,2– 36,6) meses, o ECV e o iECV não foram preditores dos desfechos clínicos compostos primário ou secundário (p>0,05). As variáveis preditoras independentes do desfecho clínico composto primário foram uso de diurético na avaliação inicial (Hazard ratio: 3,653 [1,251–10,655], p=0,018) e tempo de circulação extracorpórea (Hazard ratio: 1,019 [1,004–1,035], p=0,013). A presença de realce tardio foi preditora independente do desfecho clínico composto secundário (Razão de chances: 4,937 [1,402–17,390), p=0,013).
CONCLUSÕES: Após 24,5 meses de acompanhamento pós-operatório, os indicadores de fibrose miocárdica difusa (ECV e iECV) não foram preditores dos eventos clínicos do desfecho composto primário, e nem do desfecho composto secundário, nos pacientes com valvopatia aórtica importante submetidos ao tratamento cirúrgico. A fibrose focal (realce tardio) não foi preditora do desfecho clínico composto primário, e foi preditora independente do desfecho clínico composto secundário.