Objetivos: Pacientes com Linfoma de Hodgkin (LH) são submetidos ao protocolo ABVD (Adriamicina, Bleomicina, Vinblastina e Dacarbazina), frequentemente associado à radioterapia mediastinal. Sabe-se que esses tratamentos podem causar agressão ao coração. No entanto, o impacto desses tratamentos na função vascular e na capacidade física ainda não está esclarecido. Neste estudo, nós testamos a hipótese de que a função vascular e a capacidade física estão diminuídas em sobreviventes de LH e que o treinamento físico restaura esses parâmetros fisiológicos.
Métodos: Sobreviventes de LH, submetidos à quimioterapia com protocolo ABVD e radioterapia mediastinal há 5 anos ou mais, idade >18 anos, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, foram consecutivamente incluídos no estudo (n=20). Um grupo de indivíduos saudáveis (S) pareados por idade também foi incluído no estudo (n=10). Resultados: O consumo de oxigênio de pico (VO2 pico) foi menor no grupo LH quando comparado ao grupo S (26,5±2,1 vs. 34,4±2,3 mL/kg/min, p=0,027). Os níveis de fluxo sanguíneo muscular (FSM) durante o estresse mental foram significativamente menores no grupo LH (interação, p=0,021), o que sugere uma alteração na função endotelial nesses sobreviventes. Os valores de peptídeo natriurético do tipo-B (BNP) (76±10 vs. 36±34 pg/mL, p=0,023) e a frequência cardíaca mínima ao longo de 24h (54±2,4 vs. 47±0,6 bpm, p=0,042) foram maiores nos sobreviventes de LH. Na continuidade do estudo, os sobreviventes de LH foram aleatoriamente divididos em dois grupos: 1) treinado (LHT=7) e sedentário (LHS=10). O treinamento físico de intensidade moderada aumentou o VO2 pico (intragrupo, 32,5±10,1 vs. 29,3±9,7 mL/kg/min, p=0,022; intergrupos 32,5±10,1 vs. 24,6±9,2 mL/kg/min, p=0,017) e diminuiu a FC de repouso (intragrupo 72 ± 10,58 vs. 66 ± 9,5 bpm, p=0,039). O treinamento físico aumentou os níveis de FSM durante o estresse mental (interação, p=0,009). Essa adaptação provocada pelo treinamento físico foi tão significativa que a diferença de FSM durante o estresse mental entre os sobreviventes de LH e os indivíduos S não foi mais verificada. O treinamento físico diminuiu os níveis de BNP (intragrupo 50±144 vs. 69±13 pg/mL, p=0,010; intergrupo 50±144 vs. 112±83 pg/mL, p=0,014). Conclusão: Sobreviventes de LH apresentam capacidade física reduzida e função vascular endotélio-dependente diminuída. O treinamento físico restaura ambos a capacidade física e a função vascular em sobreviventes de LH.