Introdução: A cardiotoxicidade (CTX) é um dos efeitos adversos da quimioterapia mais comumente implicados com morbimortalidade. Dentre as manifestações de CTX, destaca-se a disfunção ventricular assintomática e a insuficiência cardíaca. De modo geral, as sociedades brasileira, norte-americana e europeia de cardiologia conceituam CTX como a redução maior que 10 pontos percentual na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). Quanto à cronologia, a CTX pode se manifestar de forma aguda, subaguda ou crônica. As manifestações crônicas podem ser muito tardias e não raro acontecem quando o paciente já teve alta do oncologista.
Relato do caso: Paciente feminina, 58 anos de idade, procurou serviço de emergência devido piora dispneia e edema generalizado. Inicialmente diagnosticada como insuficiência cardíaca (IC) congestiva perfil C, classe funcional NYHA III/IV, com necessidade de fármacos vasoativas e diurético venoso. Paciente com história de tratamento para câncer de mama em 2009, quando foi realizado quimioterapia com doxorrubicina e, em 2010, radioterapia. Relatou fibrilação atrial paroxística e Doença de Graves como comorbidades. Eletrocardiograma em ritmo sinusal, com bloqueio de ramo esquerdo (QRS= 200ms). Ecocardiograma transtorácico (ETT) inicial – FEVE (Simpson)= 33%; hipertrofia excêntrica e função sistólica reduzida com hipocinesia difusa. Angiotomografia de coronárias sem lesões obstrutivas e artéria descendente anterior com calcificação proximal discreta. Holter de 24h confirmou ritmo sinusal e frequência cardíaca média de 72bpm. Paciente foi internada e procedida otimização medicamentosa para IC, investigação etiológica da disfunção, sendo atribuída a cardiotoxicidade tardia pela quimioterapia e radioterapia. Foi implantado ressincronizador, com remissão completa dos sintomas e evolução para classe funcional I da NYHA. ETT pré-alta evidenciou FEVE(Simpson)= 68% e função sistólica preservada, sem alteração segmentar.
Discussão/conclusão: Neste relato de caso, destaca-se a importância do acompanhamento cardiológico tardio após tratamento oncológico com quimioterapia e/ou radioterapia. A instalação tardia da CTX pode dificultar o diagnóstico etiológico e o início precoce do tratamento.