Introdução: A avaliação de fatores de risco cardiovascular em crianças, como hipertensão arterial, sobrepeso/obesidade e alterações eletrocardiográficas, especificamente no Brasil, tem dados ainda muito escassos. A importância de se investigar crianças é que esses marcadores podem sinalizar o desenvolvimento futuro de doenças cardiovasculares. Nosso objetivo foi identificar a presença de fatores de risco cardiovascular em crianças do Distrito Federal (DF).
Métodos: Dados clínicos e antropométricos, pressão arterial e eletrocardiograma foram analisados de 150 de crianças de escolas públicas do DF de 6 a 15 anos participantes de projeto social de contraturno chamado Projeto Forças no Esporte, da Escola Superior de Defesa, de maio a dezembro de 2022. Obesidade foi definida como pIMC ≥ 95; e hipertensão arterial (HAS) foi definida como pressão arterial sistólica ou diastólica > p95. Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão e número de participantes (n) e porcentagem.
Resultados: Entre as 150 crianças, 80 eram meninas e 70 meninos; 46% brancas, 37% pardas e 11% pretas; 96% eram pré-púberes. A média de idade foi de 9,0 (± 1,9) anos. O eletrocardiograma foi normal em 100% delas. Obesidade foi encontrada em 12,9% delas; sobrepeso/obesidade em 24,5%; e HAS 4,9%.
Discussão: Obesidade infantil e HAS tiveram frequências menores em comparação a estudos populacionais brasileiros, que mostraram prevalência de 30% de sobrepeso/obesidade e 9,6% de HAS. Acredita-se que o fato de que nesse programa de contraturno as crianças realizam esportes e recebem alimentação balanceada isso interfira sobre o peso corporal e a pressão arterial. O baixo índice de HAS pode ser reflexo também dessa baixa frequência de obesidade infantil; e indica também qualidade dos dados, uma vez que foram obtidos em Centro de Investigação Clínica, dentro do PROFESP, ou seja, fora de ambiente hospitalar (reduzindo “efeito do jaleco branco”) e fora de ambiente escolar em si, o que poderia causar valores mais elevados pela agitação local. Pretende-se aumentar o número da amostra ao longo do ano de 2023 e realizar estratificação por grupos etários, bem como realizar análises laboratoriais e de hábitos de vida.
Conclusão: As crianças avaliadas de escolas públicas participantes de um programa de contraturno no Distrito Federal apresentaram uma frequência relativamente baixa de fatores de risco cardiovascular. Os dados sugerem que a prática regular de atividade desportiva e alimentação saudável podem explicar, ainda que parcialmente, a baixa prevalência de obesidade e hipertensão neste grupo.