O manejo da anticoagulação na fibrilação atrial (FA) pode ser desafiador em cenários clínicos com elevado potencial de complicações hemorrágicas. Em pacientes com angiopatia amilóide cerebral (AAC), há risco aumentado de hemorragia cerebral espontânea aguda, portanto a oclusão do apêndice atrial esquerdo é uma boa alternativa para prevenção de eventos tromboembólicos relacionados à FA.
Neste relato de caso, discutimos a estratégia de anticoagulação e momento de indicação de oclusão de apêndice atrial em que um paciente com fibrilação atrial e angiopatia amilóide cerebral que se apresenta com trombo atrial esquerdo após investigação diagnóstica por eventos hemorrágicos e tromboembólicos prévios importantes.
Um homem de 74 anos, hipertenso, diabético, com implante recente de marcapasso definitivo por bloqueio atrioventricular total e FA em uso de anticoagulante oral direto foi admitido no nosso serviço por acidente vascular cerebral isquêmico com transformação hemorrágica e hemorragia digestiva baixa por angiodisplasia de duodeno e jejuno. Após melhora radiológica e clínica do evento cerebrovascular e cauterização das lesões intestinais por enteroscopia com argônio, reinicia anticoagulação com dabigatrana 110mg 2 vezes ao dia. Reinterna cerca de um ano depois por desconforto abdominal associado a coleção (abscesso) não-traumático do baço. Durante avaliação pré-operatória, foi visibilizado à ecocardiografia um trombo em apêndice atrial esquerdo. O paciente foi submetido à esplenectomia e, após discussão com paciente sobre estratégias de tratamento, riscos, benefícios e suas preferências individuais, optamos por manter anticoagulação. Alguns meses depois, após a resolução do trombo, foi submetido à oclusão do apêndice atrial esquerdo sem intercorrências, minimizando possíveis novas complicações hemorrágicas relacionadas ao manejo da FA.