Introdução: As antraciclinas como a daunorrubicina (DNR) e a doxorrubicina são uma das classes de quimioterápicos mais utilizadas na prática oncológica. No entanto, esses fármacos apresentam altos níveis de toxicidade e cardiomiopatia potencialmente fatal, manifestada como arritmias, insuficiência cardíaca e derrame pericárdico, o que constituem um grande desafio na prática Cardio-oncológica.
Objetivo: Avaliar se uma nova formulação de DNR, associada a nanopartículas lipídicas (LDE), pode reduzir a cardiotoxicidade em ratos.
Métodos: Ratos Wistar foram tratados com injeções i.p. de DNR durante 3 dias consecutivos (dose cumulativa total de 15 mg/kg): LDE-DNR, tratado com DNR associada a LDE; DNR, tratados com DNR comercial. Um grupo Controle (CT) recebeu apenas LDE. Os animais foram monitorados por 30 dias, quando foi realizado ecocardiograma e coletadas amostras de sangue e fragmentos do ventrículo esquerdo para análise. A análise da expressão gênica foi realizada por PCR quantitativo em tempo real.
Resultados: O peso dos animais pertencentes ao grupo LDE-DNR foi comparável ao CT, mas no grupo DNR, o peso foi cerca de 50% menor do que nos CT. A ecocardiografia mostrou que a fração de ejeção do grupo LDE-DNR foi igual a CT (72±4 vs 68±10%), mas o grupo DNR apresentou fração de ejeção menor (52±10%) em relação a CT. A expressão gênica mostrou que o grupo LDE-DNR não diferiu do CT quanto aos marcadores pró-apoptóticos caspases 3 e 9, BAX e p53, assim como o marcador anti-apoptótico Bcl-2. A expressão gênica dos marcadores pró-inflamatórios IL-1β e NF-kB, do marcador de proliferação PCNA e do colágeno tipo I e III foram iguais em LDE-DNR e CT. Entretanto, comparado ao grupo CT, o grupo DNR apresentou maior expressão gênica de BAX, IL-1β e NF-kB e menor de colágeno tipo I. O grupo LDE-DNR não apresentou alterações no perfil hematológico. Entretanto, o grupo DNR, apresentou leucopenia comparado ao CT. Parâmetros bioquímicos como ALT, AST, GGT, uréia e creatinina não apresentaram diferenças entre os grupos.
Conclusões: A LDE-DNR levou a uma redução significativa da cardiotoxicidade, confirmada pela ausência de alterações ecocardiográficas e redução dos marcadores pró-inflamatórios e pró-apoptóticos no tecido do miocárdio induzidos pelo tratamento com DNR comercial. Assim, esta nova formulação pode ser candidata a ensaios clínicos em pacientes com câncer com o objetivo de evitar a cardiomiopatia que pode ocorrer após o uso da DNR comercial.