Introdução: A gravidade das condições que se manifestam com dor torácica torna primordial um diagnóstico rápido e preciso das suas causas. Como a doença arterial coronariana possui uma significativa morbi-mortalidade, a abordagem inicial desses pacientes é sempre feita para confirmar ou afastar este diagnóstico. Existem outras fontes de dor torácica que não a coronariana, dentre elas doenças da parede torácica. Os autores relatam um caso de amiloidoma de parede torácica apresentando-se como dor torácica.
Relato de caso: Homem de 63 anos com miocardiopatia isquêmica secundária a infarto agudo do miocárdio (IAM) em abril de 2020. Foi encaminhado para serviço de cardiologia para avaliação de dor torácica persistente. Referia que há 1 ano iniciou dor retroesternal ao esforço moderado, duração de 20 minutos, associada a dispneia, atenuada por repouso. Relata que após o IAM permaneceu com dor de mesmas características sem piora evolutiva, entretanto, reparou surgimento de massa retroesternal de crescimento progressivo. Foi investigado com eletrocardiograma que evidenciou alteração de repolarização antero-septal, ecocardiograma que documentou disfunção ventricular com fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 39% com acinesia de parede anterior médio apical, sendo então submetido a cineangiocoronariografia que documentou stent pérvio em artéria descendente anterior sem outras lesões coronarianas. Foi submetido à terapia otimizada de bloqueio neuro-hormonal e então solicitado biopsia de lesão retroesternal que veio compatível com amiloidoma. Realizou ressecção cirúrgica completa da lesão e radioterapia neoadjuvante. Evoluiu com resposta clínica e radiológica completa já no terceiro ano de seguimento, apresentando-se assintomático do ponto de vista cardiovascular, com recuperação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo atualmente 51%.
Discussão:Descrevemos um caso de um paciente de alto risco cardiovascular, inclusive com doença coronariana estabelecida apresentando dor torácica de etiologia rara, sendo ela o amiloidoma, também conhecido como amiloidose tumoral, é a forma mais rara de deposição localizada de proteina amilóide sem amiloidose sistêmica. A apresentação restrita a parede torácica é uma condição ainda mais rara que causa destruição tecidual local e pode restringir a expansão da parede torácica. Devido à raridade dos casos, a etiopatogenia exata ainda não é conhecida. O tratamento de escolha é o controle local com excisão cirúrgica completa seguida de radioterapia.