Introdução: Em 5% a 6% dos IAM não são observadas lesões obstrutivas maiores que 50%, sendo estes classificados como MINOCA (Infarto do Miocárdio com Artérias Coronárias não Obstrutivas). Estudos maiores de longo prazo demonstraram que o prognóstico desses pacientes não é benigno com risco aumentado de morte e novos eventos cardiovasculares. Métodos: Nesta coorte de centro único, todos os pacientes que preencheram os critérios diagnósticos para MINOCA com (1) IAM (2) ausência de estenose coronária ≥ 50% na artéria relacionada ao infarto e (3) nenhuma outra causa específica clinicamente evidente entre março de 2000 e junho de 2022 foram incluídos com um acompanhamento médio de 30 (9,5-67,3) meses. As características da amostra foram descritas em frequências e valores medianos (p25%-p75%). A incidência de um novo evento cardiovascular (CV) em 36 meses após a MINOCA foi estimada pelo método de Kaplan-Meier e o teste de log-rank aplicado para comparar os grupos, acompanhado de intervalos de confiança de 95% e alfa de 5% (R 3,6,1 para MacOS).Resultados:Dos 126 pacientes, 57,1% eram mulheres com cerca de 50 anos de idade (42,0-57,8). 20,6% tinham diabetes, 47,6% dislipidemia, 60,3% hipertensão e 20% IAM prévio. A apresentação clínica predominante foi IAMSSST (55,6%) e 7 pacientes tiveram um episódio de morte súbita abortada durante a internação. 38,1% dos pacientes não tiveram uma etiologia identificada. O mecanismo fisiopatológico mais prevalente foi ruptura da placa < 50% (16,7%), seguido de tromboembolismo (13,5%) e dissecção espontânea de coronária (13,5%). Apenas 3,2% realizaram tomografia de coerência óptica (OCT) ou ultrassom intravascular (IVUS). Nenhum teste provocativo foi realizado. 44,4% realizaram ressonância magnética cardíaca (RMC), com mediana de tempo para realização de 180,0 (60,0-707,5) dias após o evento. Em relação à medicação prescrita na alta hospitalar, 79,4% tiveram betabloqueador e IECA/BRA prescritos, 14,3% iniciaram anticoagulação e apenas 34,1% receberam dupla antiagregação plaquetária (DAP). A incidência do desfecho composto (morte CV, novo IAM, AVC e internação CV) em 36 meses foi de 15% (IC95% 8,9%-24,6%). A incidência de novo IAM foi de 6,3% (N=8), de AVC 2,4% (N=3), de hospitalização CV 17,5% (N=22) e apenas um óbito.Conclusão: Chama a atenção o risco do desfecho primário em 36 meses. Notavelmente, a maior parte da incidência foi atribuída à hospitalização CV. Um número importante de pacientes recebeu alta sem etiologia conhecida para sua apresentação clínica e, consequentemente, sem tratamento individualizado.