Introdução: Fístula aorto-entérica (FAE) é uma comunicação entre a aorta abdominal e o trato gastrointestinal (TGI), podendo ser classificadas como primária ou secundária. As primárias são extremamente raras e ocorrem sem história prévia de cirurgia aórtica, geralmente associadas à presença de aneurisma de aorta abdominal, as secundárias ocorrem em pacientes com histórico de cirurgias para reconstrução aórtica. Sua localização mais comum é o duodeno (78%), particularmente a terceira e quarta porção. A tríade de sintomas é caracterizada por dor abdominal, sangramento do TGI e massa abdominal pulsátil, mas apenas 10-23% dos pacientes apresentam estes sintomas conjuntos. A mortalidade é extremamente alta quando não diagnosticada.
Relato de caso: Paciente masculino, 73 anos, diabético, ex-tabagista, deu entrada no hospital por hematêmese importante. Admitido consciente e orientado, submetido à endoscopia digestiva alta com diagnóstico de úlcera duodenal com sinais de sangramento recente e perfuração. Submetido à laparotomia exploradora, porém, sem detecção de perfuração. Optado por colocação de dreno de penrose na segunda porção duodenal para vigilância do aspecto da secreção. Após 48 horas, apresentou novo quadro de hemorragia digestiva, sendo submetido a tomografia computadorizada contrastada, com evidencia de aneurisma de aorta abdominal infrarrenal, com diâmetro de 9 cm, acometendo as artérias ilíacas e área de borramento em contato com alça intestinal próximo a terceira porção do duodeno. O paciente evoluiu com hematêmese significativa e instabilidade hemodinâmica, necessitando de intubação orotraqueal e drogas vasoativas. Devido à instabilidade, foi submetido a cirurgia de urgência para correção do aneurisma e da FAE. Na retirada do trombo mural, verificou-se secreção entérica e purulenta, sendo optado por ligadura proximal e distal do saco aneurismático, seguido de enxerto extra-anatômico axilo bi-femoral. O paciente apresentou piora da função renal, com necessidade de aumento de drogas vasoativas. Após 24 horas, foi submetido a revisão de peritoneostomia e retossigmoidectomia evoluindo com parada cardiorrespiratória após 30 horas.
Conclusão: A prevalência da FAE primária pode variar de 0,04 a 0,07% em pacientes com óbito por hemorragia maciça do trato gastrointestinal e cerca de 2,36% em pacientes com associação de aneurisma de aorta abdominal. O diagnóstico é de exclusão, devendo ser iniciado por endoscopia digestiva alta e prosseguir com tomografia computadorizada. O tratamento deve ser cirúrgico, de forma convencional aberta ou endovascular.