Introdução: A infecção pelo COVID-19 provoca uma reação inflamatória sistêmica com diferentes níveis de gravidade e repercussões nos sistemas corporais, sendo que indivíduos com doenças cardiovasculares prévias são mais susceptíveis à desfechos adversos. Nesse sentido, é possível que hipertensos que apresentam como característica um aumento da influência simpática na modulação autonômica da frequência cardíaca (FC), reconhecidamente um preditor de morbi-mortalidade cardiovascular, podem apresentar em longo prazo efeitos secundários e tardios adversos em relação à regulação autonômica cardiovascular. Objetivo: Investigar em homens hipertensos os efeitos tardios da COVID-19 sobre parâmetros autonômicos cardiovasculares com ênfase na modulação autonômica cardiovascular e na sensibilidade barorreflexa (SBR). Métodos: 38 homens, de 35 a 55 anos foram distribuídos em dois grupos: grupo hipertenso acometido pela forma leve da COVID-19 há mais de 6 meses (N=13); grupo hipertenso não acometido pela COVID- 19 ou assintomáticos (N=25). Todos os participantes foram submetidos aos seguintes procedimentos experimentais: avaliação antropométrica; registro dos parâmetros hemodinâmicos; avaliação da aptidão cardiorrespiratória por meio do teste cardiopulmonar; análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e pressão arterial (VPA); e avaliação da SBR espontânea. Resultados: O grupo COVID apresentou maiores valores do peso corporal, índice de massa corporal (IMC, kg/m2) e percentual de gordura corporal. Também apresentou menores valores da FC (70 ± 6 vs. 75 ± 7 - P=0,035). A análise da VFC mostrou que o grupo COVID apresentou maiores valores de variância total (3469 ± 2349 vs. 829 ± 493 - p<0,001), oscilações de baixa frequência (LF; 810 ± 524 vs. 305 ± 215 ms2 - p<0,001) e oscilações de alta frequência (HF; 461 ± 410 vs. 173 ± 148 ms2 p<0,001) somente em valores absolutos. Por sua vez, a análise da VPA mostrou que o COVID apresentou maiores valores de variância (43.5 ± 6.4 vs. 27 ± 19 mmHg2 - p=0,024) sem afetar as oscilações de LF. Na análise da SBR, o grupo COVID teve maiores valores de ganho total (9.5 ± 2.3 vs. 6.6 ± 2.7 ms/mmHg - p=0,002), nas respostas bradicárdicas (9.5 ± 2.5 vs. 6.7 ± 2.5 ms/mmHg - p=0,002) e respostas taquicárdicas (9.5 ± 2.3 vs. 6.5 ± 3 ms/mmHg - p=0,003). Conclusão: Os resultados preliminares do presente estudo sugerem que apesar do aumento nos valores antropométricos, pacientes acometidos pela SARS-CoV-2 apresentam em longo prazo um aumento na SBR e elevação na VFC, entretanto, sem alterar o balanço modulatório autonômico cardíaco.