HÁ ESPAÇO PARA OS BETABLOQUEADORES NA TERAPIA TRIPLA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL?
Antonio Gabriele Laurinavicius, Márcio Gonçalves Sousa, Jonathan Batista Souza, Oswaldo Passarelli Junior, Fernanda Consolim Colombo
INSTITUTO DANTE PAZZANESE DE CARDIOLOGIA - - SP - BRASIL
INTRODUÇÃO. O tratamento da hipertensão arterial (HA) se fundamenta na indicação de 3 classes terapêuticas de primeira linha: IECA/BRA; BCC; e tiazídicos (TZD). Atualmente os betabloqueadores (BB) constituem opção de primeira escolha apenas em situações clínicas específicas. Há controvérsia em relação ao impacto dos BB na redução do risco CV fora desses contextos, em parte em função da heterogeneidade da classe. O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso dos BB como parte da terapia tripla na prática clínica de um centro de referência, estudando seu impacto no controle pressórico.
MÉTODOS. Selecionamos 113 pacientes em uso de 3 classes de anti-hipertensivos consecutivamente atendidos em serviço ambulatorial público de referência no tratamento da HA. Avaliamos a taxa de uso de BB e suas principais associações, identificando as classes mais frequentemente substituídas pelos BB dentro da terapia tripla. Em modelo de regressão logística identificamos as variáveis associadas a prescrição da classe. Finalmente, estudamos o impacto do uso dos BB como parte da terapia tripla no controle pressórico em MAPA de 24h.
RESULTADOS. Dos 113 pacientes em terapia tripla, 61% (N=69) estava em uso concomitante das 3 classes de primeira linha (IECA/BRA + BCC + TZD). No restante, uma das classes era substituída por um BB (29%; 33/113), pela espironolactona (7%; 8/113), ou por outra classe anti-hipertensiva (3%; 3/113). Os BB foram a principal alternativa as classes de primeira linha, integrando a terapia tripla em 75% (33/44) dos esquemas alternativos. Em 55% dos casos (18/33) o BB foi prescrito no lugar do BCC; em 24% (8/33) no lugar do TZD; e em 6% (2/33) no lugar do IECA/BRA. Os BB mais prescritos foram o atenolol (66,7%; 22/33); o metoprolol (15,1%; 5/33); e o carvedilol (12,1%; 4/33). Foram preditores de indicação de BB: sexo feminino (OR: 4,67; IC: 1,64-16,9; p=0,008); insuficiência coronariana (OR: 3,28; IC: 1,17-9,36; p=0,023); e hipertrofia do ventrículo esquerdo (OR: 3,17; IC: 1,06-10,9; p=0,048). Os pacientes em terapia tripla com BB apresentaram frequência cardíaca média menor que aqueles sob terapia tripla sem BB (67±9 bpm versus 73±12 bpm; p=0,013). Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos no controle pressórico pela MAPA de 24h (PA Total: 116±10 /72±9 mmHg versus 121±11 /72±9 mmHg; p=0,3/0,9).
CONCLUSÕES. Na população estudada os BB constituíram a principal alternativa as classes de primeira linha como parte da terapia anti-hipertensiva tripla, mantendo equivalente controle pressórico de 24h.